Os pais estão diferentes?
“Novos
pais, novas crianças” era o tema do Congresso Pré-Escolar, organizado pela
Porto Editora. E a pergunta, obviamente, impõe-se: os pais estão diferentes? A
resposta é unânime. Basta comparar os modos de pensar e de agir e, com eles, as
formas de comunicar, conviver, aprender, consumir, vestir… as diferenças entre
gerações são, de facto, óbvias (afinal, a sociedade em que vivemos - e até o ar
que respiramos - está, também ela diferente!). Estranho seria não estarmos
diferentes.
Recuemos
uns anos – e não são precisos muitos – e vejamos em que se traduz a diferença.
Os pais estão, indiscutivelmente, mais ativos, participativos, atentos,
informados, empenhados e preocupados. Mas também, concordam pediatras,
psicólogos e educadores, mais permissivos, submissos e tolerantes, quantas
vezes baralhados e “perdidos”. E, nalguns casos, mais “desprendidos” da sua
missão de transmitir valores e raízes, delegando noutros a delicada tarefa de
educar (o psicólogo canadiano Gordon Neudeld alerta, nesta edição, para o facto
do papel dos adultos ter vindo a ser substituído nos últimos anos pelo dos
amigos).
Perante
tal cenário (e muitas “queixas” por parte dos educadores de infância), ficaram
no congresso alguns recados: que os pais devem impor-se, exercer a autoridade e
estabelecer regras. Sem medo de definir limites ou ignorar birras, sem pruridos
de quebrar normas, pedir desculpa ou admitir o erro. E nada disto é
incompatível com brincadeiras – “Brinquem com os vossos filhos!”, desafiou o
pediatra Paulo Oom - vínculos e afetos. Pelo contrário. Porque é precisamente
com estas “armas” simples que tão bem dominamos que podemos, suave mas
firmemente, lançar ordens e incutir princípios. Porque, por mais diferentes que
estejam os pais, a brincadeira continua a ser a forma mais divertida de ensinar
e o amor o modo mais eficaz (e sublime) de conquistar (e educar) corações.
Lá
fora, entre raios de sol e nuvens carregadas, caem as primeiras chuvas. Gosto
destes primeiros dias de outono. A brisa fresca da manhã a pedir um agasalho, o
cheiro das gotas de água na terra seca, as árvores a despir-se de folhas, a
paisagem emoldurada em tons de cinza e castanho. Melancólico, o cenário é
também sinal do poder renovador (e reconfortante) da natureza. E, com a
renovação, a esperança. Por mais ventos e tempestades que se avizinhem…
Helena Gatinho